ALTERNÂNCIA NO PODER É NECESSÁRIA

Do Blog do Altino Machado

Por Fátima Almeida

A bacia amazônica de solo sedimentar, relativamente jovem, não é um meio adequado para concentrações urbanas. Os povos indígenas que a habitaram, muito antes da chegada do homem branco, eram milhares de grupos, cada um com 300 habitantes em média, fato esse que levou Darcy Ribeiro a conceituá-los como microetnias. Aos povos indígenas andinos, estimados em milhões e que constituem a esmagadora maioria dos habitantes naqueles países, o antropólogo chamou de macroetnias.

Seguindo a lógica implícita no modo indígena de ocupação, pressupomos que o melhor modo para habitação na Amazônia, por grupos não indígenas, seria, daqui para frente, o de ecovilas. Quando o governo do Acre fez o projeto “Cidade do Povo”, teria convidado os antropólogos para debater esse tipo de questão? O referido projeto parece seguir o “fazer o máximo possível com menos custos”, paradigma por excelência do sistema capitalista. É esse tipo de atitude, vindo da Frente Popular do Acre ou da oposição, que precisa mudar, com mais responsabilidade, de fato, para com as gerações futuras.

A reinvenção da República em nossa era foi necessária como um regime de governo que correspondesse ao dinamismo da nova classe dominante - a burguesia. A monarquia gerava parasitismos, além de ser perdulária. O sistema de representação eletiva, com mandatos determinados em quatro ou cinco anos, correspondeu à ideia de transitoriedade no exercício do poder para não se constituir, como ocorria na monarquia, domínio de um grupo por sobre toda a sociedade.

A primeira revolução liberal inglesa ocorreu quando o Parlamento, com maioria de representantes da burguesia, não cedeu às pressões do monarca por elevação de impostos que tinha a finalidade de formar um exército poderoso sob suas ordens. Os burgueses temiam, com razão, que tal exército depois caísse sobre eles próprios. No sistema capitalista, portanto, não é conveniente que um partido permaneça por muito tempo no governo porque ele tenderá a expandir excessivamente o seu domínio e controle sobre a sociedade, com grande prejuízo para a economia.

Depois de uma década no poder, um partido passa a controlar as informações, as instituições e a expandir ad infinitumseu domínio no âmbito da iniciativa privada, forjando situações, quais sejam, levar uns à falência e outros ao aumento dos lucros, usando para isso os próprios braços do Estado, sob seu controle, que vão desde uma simples fiscalização de ordem sanitária a um entrave nas porteiras, numa versão de protecionismo típico dos velhos regimes monárquicos.

O “mensalão” não é um fato isolado e sim o modo como o partido situacionista submete a todos da iniciativa privada que giram em sua órbita a fornecer recursos não contabilizados sob o nome de “caixa dois”, o qual as pessoas sem escrúpulos justificam como modo adequado para ter dinheiro para compra de votos nas campanhas.

A alternância no poder será sempre necessária, historicamente, enquanto perdurar o sistema capitalista que prioriza a livre concorrência.

Fátima Almeida é escritora e historiadora
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