Caiu por terra a teoria de que a fumaça que cobre o Acre no verão amazônico é produzida por outras regiões do país. O Acre está poluindo com as queimadas a ele próprio. Este é o relatório do INPE em pesquisa feita entre 2005 e 2010. Em 2005 o Acre literalmente "pegou fogo", o que provocou um surto de doenças respiratórias como nunca se viu antes e segundo o estudo, de lá pra cá, a coisa não mudou muito. Somos os causadores dos nossos próprios problemas e não os outros como queria fazer parecer o Governo do Estado.
Veja na íntegra o relatório.
A pesquisa foi realizada entre os anos de 2005 e 2010 nos municípios de Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Tarauacá e Plácido de Castro, onde nesse período foram registrados os maiores índices de queimadas. Também foram consideradas as informações colhidas em outras cidades com menor incidência. A metodologia empregada foi baseada no uso de dados observados, imagens de satélite e modelos matemáticos, e é semelhante aos métodos científicos utilizados pelo CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) nas previsões meteorológicas.
Segundo o Professor Doutor, Saulo Ribeiro de Freitas, que atua no INPE, é um equívoco pensar que a poluição do ar acontece somente nas áreas urbanas. Bacharel em física com mestrado e doutorado na área, além de ser detentor do título de pós-doutor pela NASA Ames Research Center –EUA, Saulo Ribeiro citou, como exemplo, o estado do Mato Grosso, que registrou em 2010, 172 mil focos de incêndios- a maioria em áreas rurais e acampamentos. Além disso, os níveis de poluição na floresta são dez vezes maiores dos que são registrados em São Paulo.
As cidades são afetadas porque ventos e massa de ar frio acabam exportando a fumaça. É o que acontece em Porto Alegre, que registra índices de poluição, apesar de está localizada no Sul, longe das regiões que mais queimam.
No Acre, ambiente poluído é resultado do que é produzido aqui e em outros lugares
O estudo concluiu que as nuvens de fumaça que tingiram de cinza o céu acreano e causaram inúmeros transtornos nos últimos seis anos são consequência das queimadas feitas no Acre como também nos estados de Rondônia, Amazonas, Pará e cidades da Bolívia. Em 2005, quando o Acre estava em chamas e a situação fora de controle, foram registrados 28.784 focos de incêndio. “Nesse ano, a maior contribuição foi do Acre e decorreu das queimadas registradas no próprio estado”, disse Saulo, ao afirmar ainda que, Rondônia e Pará contribuíram com 30%.
Em 2008, o Acre continua liderando a lista das fontes emissoras de fumaça, seguido da Bolívia. Já em 2009, quando os Ministérios Públicos Federal e Estadual iniciaram uma discussão sobre a proibição progressiva da autorização de queimadas, o Acre deixou de ser o grande responsável, sendo que o Amazonas é quem aparece em primeiro lugar. Em terceiro, a Bolívia. Esse foi o cenário que verificou-se também no ano seguinte.
“A fumaça permanece num local por cerca de dez dias e as consequências são sentidas por todos os seres vivos que sofrem com a degradação do ar. No Acre, os meses de maior índice de poluição são agosto, setembro e outubro”, informou.
Dos municípios avaliados, Plácido de Castro apresenta os piores padrões de qualidade do ar
De acordo com Saulo Ribeiro, no município de Plácido de Castro estão os índices de poluição superiores ao que estabelece a Organização Mundial de Saúde (OMS). “É algo extremamente preocupante, especialmente, no âmbito da saúde pública”, completa.
O estudo que avalia a qualidade do ar é feito com base no número de material particulado (PM10), partículas de dez micrômetros, ou menos, por metro cúbico. De acordo com a OMS, níveis de PM10 acima de 20 microgramas por metro cúbico (µg/m³) podem provocar sérios riscos à saúde.
Em 2010, Rio Branco apresentou 70 microgramas e foi considerada a cidade acreana mais poluída. Entre os efeitos, destacam-se a redução, em média, de um quinto da luz solar que incide sobre o solo, potencial para esfriar a superfície em até 2º Celsius e diminuir de 15% a 30% as chuvas.
Os prejuízos vão além da questão ambiental. Um estudo inédito, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outras instituições, comprovou os efeitos nocivos das queimadas à saúde das pessoas, o que resulta em aumento no número de consultas e internações hospitalares por doenças respiratórias e redução expressiva na capacidade pulmonar de crianças e adolescentes.
Estudo reforça defesa da proibição das queimadas no estado
Em 2009, a Justiça Federal concedeu liminar em ação civil pública movida pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual no Acre para proibir progressivamente a autorização de queimadas no estado e fixar prazo para que o poder público adote medidas compensatórias, com vistas a reparar as consequências socioeconômicas advindas da supressão do uso do fogo.
“Esse estudo, inédito no Brasil, é fruto de uma parceria com o INPE e de uma longa discussão, que começou em 2005, quando o MPE e o MPF passaram a tratar o tema como prioridade. A sociedade precisava ser esclarecida sobre as fontes emissoras de fumaça, e é possível que a partir desse resultado tenhamos desdobramentos”, declarou a Procuradora-Geral de Justiça, Patrícia de Amorim Rêgo.
A promotora de Justiça Meri Cristina Amaral Gonçalves, que atua na Promotoria de Meio Ambiente, também ressaltou a importância do estudo. “Um dos problemas que verificamos foi que mesmo com a proibição ainda havia uma densa cortina de fumaça. Então, nos preocupamos em saber das fontes, buscar essas informações e conhecer quais as implicações”, afirmou.
Participaram do encontro, pesquisadores, representantes do governo estadual, prefeituras e do MPF. “Hoje as queimadas passaram a ser controladas e serão proibidas no Acre por vários motivos, entre eles, os graves problemas de saúde que afetam a população”, disse o procurador da República, no Acre, Anselmo Henrique Cordeiro Lopes.
Para o pesquisador da Universidade Federal do Acre, Irving Foster Brown, o levantamento vai subsidiar muitas ações para prevenir e reduzir danos ambientais. “Os desastres são cada vez mais frequentes e nós precisamos planejar ações para reduzir os impactos”, acrescentou.
Fonte: Agência de Notícias - MP/AC